Que horas são?

quinta-feira, 16 de maio de 2013








Sidnei Schneider é poeta, tradutor e contista. Nossos caminhos se cruzaram pelo afeto de uma amiga muito querida, Ana Cristina, quando soava o sino que anuncia os últimos minutos da Feira do Livro, em Porto Alegre. Era um dia especialíssimo pra mim, havia passado algum tempo ouvindo Mia Couto, estava em estado de encantamento, o que me autorizava- acredito fortemente - cometer uma gafe imperdoável: troquei o gênero literário do escritor. "Prazer, Sidnei. Lançaste um livro infantil, não?"  "Não!" respondeu.  Neste momento fui salva pelo sorriso amável da Ana Cristina. Espero ser perdoada pela atenuante da confissão pública.



            

                         


Sidnei relançava seu livro de contos "Andorinhas e outros enganos", com capa de Fabriano Rocha. E suas andorinhas têm voado pelos céus do estado, nos mais variados eventos de literatura.

Trouxe a resenha do livro feita por  Luiz Paulo Faccioli, 
ensaísta, escritor e crítico literário do jornal Rascunho e da Bandeirantes.



(RESENHA)



"O livro escolhido chama-se Andorinhas e outros enganos, coletânea de contos assinada pelo poeta gaúcho Sidnei Schneider, que marca sua estreia na prosa de ficção. A edição da Dahmer, uma pequena casa editorial, reservou a primeira boa surpresa  uma capa atraente, assinada por Fabriano Rocha, envolve um miolo de 112 páginas em papel pólen, com letras de bom corpo, proporcionando uma leitura confortável nada parecido com aquelas publicações em papel branco e fino, com letras pequenas e amontoadas que são um martírio para o leitor. A orelha é da Profa. Márcia Ivana de Lima e Silva (UFRGS), que faz um bonito diálogo da coletânea com os conceitos literários de Edgar Allan Poe.

Mas o melhor ainda estava por vir. O livro é composto por doze contos breves agrupados em três partes. Bastou ler as primeiras linhas do primeiro conto, Marie, a dos gansos, para eu comprovar que estava diante de um belo texto. Schneider aproveita na ficção o que desenvolveu como poeta nos três livros já publicados nesse gênero: a prosa é fluida, elegante, belamente estruturada. E aqui aproveito para citar um trecho, justamente o da abertura do livro:

Tinha vinte e três anos, um corpo de flor e alucinação, e chegou naquela tarde à praça da Vila como andava por todo lado, guiada por oito gansos e precedida pelo escarcéu que faziam. Um casal de artistas montava o palco do anunciado teatro de bonecos, As Incríveis Paixões de Zebedeu, e alguns moradores traziam as cadeiras do Salão para a assistência, mas Marie Kötzel não se deteve em cumprimentos. Aproximou-se da boca de cena pelo canto esquerdo, e porque ficou de pé com os gansos ou por estarem as cortinas acima da altura dos olhos, as famílias foram dispensando as cadeiras e ficaram como ela.

O escritor que consegue produzir um texto desta qualidade já está maduro. Mas restava saber se o poeta conseguia lidar com uma estrutura tão específica como a do conto, com desafios impostos pela brevidade, esfericidade, contenção e subtexto, que são algumas de suas características.

Pois Schneider apresenta uma desenvoltura invejável. Ele consegue manter o foco no essencial, no ritmo e no desenvolvimento seguro de suas histórias. A temática é variada, passando pelas agruras do trabalho do escritor e por flagrantes do mundo urbano e contemporâneo. Mas o melhor da coletânea são os contos em que Schneider explora histórias da colonização alemã no RS. Os movimentos que faz uma dessas famílias pelo interior do estado está retratado num conto emocionante, Os pratos, que encerra a coletânea. Os pratos alemães que trouxeram para o Brasil os antepassados dessa família eram na realidade made in England, mas ninguém se deu conta desse detalhe; eles representavam a ligação com as origens e com a cultura germânica e eram símbolo da união que não sobreviveu à vinda da família para a capital e à paulatina ruptura de seus membros com os costumes de seus ancestrais.

Descubro por fim que os doze contos foram produzidos num intervalo de quatorze anos, sendo Os pratos justamente o mais antigo é de 1995. É mais uma prova de que pressa não combina com literatura."



[Band News, 17.11.2012]










"Sidnei Schneider é poeta, tradutor e contista.

Publicou os livros "Andorinhas e outros enganos" (Dahmer, 2012, contos),

"Quichiligangues"(Dahmer, 2008, poesia),
"Plano de Navegação" (Dahmer, 1999, poesia)
"Versos Singelos/José Martí"(SBS, 1997, tradução).
Participa de "Poesia Sempre" (Biblioteca Nacional/MinC, 2001),

"Antologia do Sul(Assembléia Legislativa, 2001),

"O Melhor da Festa"(Nova Roma, 2009;
Casa Verde, 2010),

"Moradas de Orfeu" (Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2011) e de outras dez publicações.

1º lugar no Concurso de Contos Caio Fernando Abreu, UFRGS, 2003; 
1º lugar em poesia no Concurso Talentos, UFSM, 1995, de um total de treze premiações.
Participa do projeto ArteSesc e é membro da Associação Gaúcha de Escritores."




                    

Aviso aos navegantes:


em Santa Maria  os livros do Sidnei Scheneider podem ser encontrados na Cesma, Nobel, Athena, Capsm e Sebo Café. Em Porto Alegre, na Livraria Cultura, na Palavraria e na livraria da Casa de Cultura Mario Quintana. Compras online via Livraria Cultura ou Sapere Aude.

Recomendo a leitura. Voem com as andorinhas literárias do Sidnei e, querendo, contem aqui nos comentários a sua opinião sobre o livro.




quarta-feira, 15 de maio de 2013




Lília Tavares é uma das pessoas mais delicadas que conheço. Um oceano nos separa, Lília mora em Portugal, mas parece morar pertinho. Falamos eventualmente, e as palavras dela são sempre doces e inspiradoras. Ontem foi o dia do lançamento do seu livro "PARTO COM OS VENTOS".
Poesia para encantar.

                            

       Jose Alpedrinha - Photography.



Trouxe suas palavras para apresentá-la aqui no blog. Busquei do seu perfil no Facebook:



"Lília Tavares, psicóloga clínica, há 22 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos.
Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 'Fusão Crepuscular e outros Poemas' em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen", no Facebook. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela."


                       



“PARTO COM OS VENTOS” (Kreamus, 2013)






As brisas da poesia da Lília:




"Hoje acordei com a dor das árvores;
estou de pé e o meu tronco sustém
o vazio e a solidão dos ramos
côncavos de espera,
impacientes de ternura.
Quero o bracejar dos pássaros,
ser refúgio dos ventos que me procuram,
tornar-me na folhagem que te abriga,
ser o ninho na tua noite, aberto
com a inquietação e a serenidade
dos rumores das aves mais tardias.
Não, desta vez não vou ..."





"Quero acordar-te
da profundidade do teu sono,
da carícia tornada ferida,
do crepúsculo não vivido.
Buscaste-me quebrando
um a um os silêncios
das tuas mãos,
pisaste as estradas,
com asas chegaste
como o outono
discreto mas presente.
Sou a semente que se perdeu
entre as pedras do caminho
e o luar esquecido pela claridade
dos néons.
Soube-nos a chegada
a partida pela noite.
Se voltas,
porque tens de partir
na cauda dos ventos do norte?
O frio percorre-me
quando começa a sombra da tua ausência."







Jose Alpedrinha - Photography.






            Jose Alpedrinha - Photography




"PARTO COM OS VENTOS" tem ilustrações da artista plástica SIMONE GRECCO e prefaciado pelo meu amigo querido CARLOS EDUARDO LEAL, psicanalista, escritor, artista plástico.


Que os deuses da poesia te inspirem e iluminem, todos os dias, Lília, para que nasçam mais "filhos" como este. 
Por que vi dois significados para a palavra PARTO no título do teu livro:

parto, do verbo partir;

parto, s.m.  ato de parir, de dar à luz.



Meus melhores desejos e pensamentos neste momento tão especial.




terça-feira, 14 de maio de 2013


A arte é sagrada, ultrapassa os limites de entendimento, descarta palavras e preenche todos os nossos vazios. Somos, na arte. Fiquei encantada com o trabalho do artista plástico chinês DI LI FENG que pinta óleo sobre tela e tem um cuidado impecável com o uso da luz e a riqueza de detalhes, criando uma atmosfera muito próxima da fotografia.





                           DI  LI  FENG


















































"Di Li Feng, nascido 1958, é um chinês artista contemporâneo,  agora a trabalhar como professor no Lu Xun Academia de Belas Artes, na China. Nascido em uma pequena cidade chinesa, ele se formou na Academia Central Chinesa de Belas Artes, a maior instituição artística na China, de onde ele tirou uma pós-graduação em 1990. No entanto, suas pinturas ele rapidamente chamou a atenção de colecionadores de arte fora da China.

Óleos de Di Li Feng agora foram expostas amplamente nos Estados Unidos, e particularmente em Los Angeles e Nova York . Professor Di também lecionou em várias universidades norte-americanas. Em seu trabalho, o professor Di visa combinar a realidade de um objeto concreto com a atmosfera criada por uma textura e fundo. Ele tem uma admiração especial para as glórias do passado imperial da China, que é a base para muitas de suas pinturas, e ele declara que está "encantado com a sua honra ou desonra, suas tragédias, tristeza, sentimentalismo e grandes alegrias." (WIKIPEDIA)









Miguel Ángel Solá  em uma interpretação impecável do poema "NO  TE  SALVES", do Mario Benedetti.







NO TE SALVES



Mario Benedetti




"No te quedes inmóvil 
al borde del camino 
no congeles el júbilo 
no quieras con desgana 
no te salves ahora 
ni nunca 

 no te salves 
no te llenes de calma 
no reserves del mundo 
sólo un rincón tranquilo 
no dejes caer los párpados 
pesados como juicios 
no te quedes sin labios 
no te duermas sin sueño 
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo 
pero si 
pese a todo 
no puedes evitarlo 
y congelas el júbilo 
y quieres con desgana 
y te salvas ahora 
y te llenas de calma 
y reservas del mundo 
sólo un rincón tranquilo 
y dejas caer los párpados 
pesados como juicios 
y te secas sin labios 
y te duermes sin sueño 
y te piensas sin sangre 
y te juzgas sin tiempo 
y te quedas inmóvil 
al borde del camino 
y te salvas



entonces 
no te quedes conmigo. "








NÃO TE SALVES[i]



"Não fiques imóvel 
a beira do caminho 
não congeles o júbilo 
não queiras sem vontade 
não te salves agora 
nem nunca 
não te salves. 
não te enches de calma 
não reserves do mundo 
só um rincão[iii] tranqüilo 
não deixe cair as pálpebras 
pesadas como juízos 
não te fiques sem lábios 
não te durmas sem sono. 
não penses sem sangue[iv]
não te julgue sem tempo. 
mas se 

Apesar de tudo 
não podes evitá-lo 
e congelas o júbilo 
e queres sem vontade 
e te salvas agora 
e te enches de calma 
e reservas do mundo
só um rincão tranqüilo 
e deixas cair tuas pálpebras 
pesadas como juízos 
e te secas teus lábios 
e te dorme sem sono 
e te pensas sem sangue 
e te julgas sem tempo 
e ficas imóvel 
à beira do caminho 
e te salvas 

então 
não fiques comigo." 






"TRADUÇÃO DE ANGEL RODRIGUEZ JIMENEZ. 
Nota do tradutor: esta tradução é quase literal, o que não deveria ser, pois não é possível 
traduzir todo o sentido que ela traz: a cultura, a língua... Mas, no caso especial deste poema, 
Mario Benedetti vai muito além do seu tempo e alcança o sentido mais profundo da nossa 
relação com o mundo e o que existe ainda de humano em nós. 
[i] Este poema está no livro: Poesia Habana. Ciudad de la Habana: Editorial Pueblo e 
Educación, 1983.
[ii] Poeta uruguaio radicado na Espanha. 
[iii] Um cantinho, um lugar tranqüilo. 
[iv] Sem emoção, sem paixão."


:: Verinotio - Revista On-line de Educação e Ciências Humanas. 
 Nº 8, Ano IV, Maio de 2008 - Publicação semestral – ISSN 1981-061X.






segunda-feira, 13 de maio de 2013



Tenho um certo "criançamento" (Manoel de Barros) no olhar. Um pouco de inocência que me permite registrar as coisas pequenas, invisíveis aos olhos mais amadurecidos e refinados. Sou de uma geração que brincou muito, geralmente com brinquedos inventados, feitos artesanalmente. Fui uma criança que foi beneficiada com as histórias contadas pelos adultos, histórias criadas com a ajuda do nosso imaginário. Éramos coautores das aventuras contadas, tínhamos liberdade para criar, imaginar, transformar.
Sou o que me permitiram ser na infância: livre para pensar e enxergar o mundo com as cores do meu coração e da minha alma.  Cresci, amadureci, tornei-me adulta, mas conservei "o criançamento do olhar" e, hoje, fotografo para cultivar este encantamento e não perder a simplicidade com que vejo a Vida.







"...E o amor se fez

Sob um luar sem defeito de abril."



               Manoel de Barros




domingo, 12 de maio de 2013






Com o Thales, ensino e aprendo, todos os dias. E me refaço, me transformo, sou outra. Desde cedo fortaleço suas asas, mostro o caminho da inquietação, da generosidade, da amorosidade.
Sinto  orgulho por ser mãe dele, de vê-lo transformar-se em um homem íntegro, afetivo, ético.
Somos iguais e diferentes, o que garante um equilíbrio na nossa relação. Somos iguais na amizade e diferentes em nossos papéis. Mãe e filho, antes de tudo. Mãe que orienta e exige, filho que discute e confronta. Dois que se amam profundamente.
Há dezessete anos, quando engravidei, não imaginava que (re)nasceria no dia do nascimento do meu filho e, assim, seria por toda a minha vida.






MÃES NA ARTE

 Vincent van Gogh (1853-1890), Mother Roulin with Her Baby, 1888,Philadelphia Museum of Art





Romero Britto



      Henry Moore(Mother&Child.Stone.1932)




                     Pablo Picasso, Mother and Child, 1902






A FALTA

                       



                        












                   
"Ainda estou naquela esquina
Lua ausente, chuva fina
Vendo a noite escura a me roubar você
Você sorriu e em seu olhar a dor se expôs, a dor se
expôs
Não aguento a memória de nós dois, da nossa história
Se apagando no futuro como um céu
Já que eu perdi você agora o que fazer, senão dizer
Eu não vivo, vivendo sua falta
Eu não vivo, eu me sinto tão só."

                  










               
               Tom Evans e Pete Ham (versão de Toni Platão)








                             Toni Platão e Zélia Ducan
















Minha mãe...







"Mãe, peixe sim, peixe fui em teu aquário  
Pássaro implume em teu ninho. 
Cordeiro em teu estábulo
Ah, esse aroma de Favos de teu colo, 
incenso em minha infância... 
A Grande Fada transforma em riso o grito 
descoberta do mundo

Mãe é flor na sala, 
lençóis limpos e mesa pronta. 
A Mãe batiza os objetos. 
A jarra de água fresca, as toalhas, o termômetro.

A Mãe espera até que a aurora 
entregue o pão e o leite no portal.

Eis a Mãe, com seus presságios e sobremesas... 
Eis o Filho, guardião de uma esperança de amor 
protegida à sete chaves 
lá, onde residem as mais cálidas lembranças 
e os mais ásperos segredos..."




(Luiz Coronel)